quarta-feira, 11 de março de 2009

Tales de Mileto


Pensando o sentido dos astros pra existência
Tal qual fizera Tales de Mileto
Sou chamado pelo mundo cá de baixo
E numa digressão me meto
A pensar sobre os segredos da pá

Pá pra que?
Pra que pá?

Pá pra limpar
A sujeira terrestre
Que o homem plantar

Pra que pá?
Pá pra que?

Pá pra catar
As latinhas de água
Que alguém vai beber.

E estas são apenas poucas possibilidades
Do que se pode causar com a pá.
Se a pá está firme e bem feita
Já não tem mais motivo a desfeita:
Cate esta pá e comece a cavar

Pá pra que?
Pra que pá?

Pá pra cavar
Recolher
terra nostra
Pra poder plantar

Pra que pá?
Pá pra que?

Pá pra cavar
Enterrar o seu corpo
Deixá-lo nascer.

Qual será o sentido dos astros pra existência?
Descuida-se Tales e cai no buraco ao olhar as estrelas
Pá pra criar o buraco em que Tales foi se meter
No momento em que passa a doméstica galhofeira
Que de tanta graça, riu-se dele até morrer.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Um passo em falso


Um passo em falso.
Invocam-se as sombras,
Fantasmas do que fora
A minha feliz existência.
Já não sou novamente
a velha pedra empoeirada
para a qual os caras acenam sem surpresa.
A minha cara agora é feita de madeira.
Brinco de descobrir os desenhos das nuvens.
Do alto desvendo os mistérios da laranjeira.
Revejo da infância o que levo comigo
E me calo no hoje portando a origem
Da grana que saco, do soco de levo,
Do sonho sustado e daquilo que digo.

O mocinho ofendeu a mocinha.
A fera curou a ferida.
A mocinha beijou o bandido.
A verdade se encontra fendida.
A fissura profunda nos joga no abismo.

Nos sonhos sombrios da noite passada
Já não vejo de novo a mesma saída.
Daí vem então acalmar a cilada
Poesia:
O flerte da morte na vida.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Baile à fantasia


O Sol se expande.
Os olhos de antes de ontem
Já não são capazes de ver a essência
Do que se sente hoje,
neste girar lento
E nauseante
Do planeta Guerra.
E a gente gira
Num giro a morena é só samba
É só samba no pé
Ela é samba, ela é bamba, ela é o que quer.
Ela está pro que der, ela está pra quem der,
Ela está pra quem der...
Pra quem der e vier.

Eu não sou nada
E é esta a minha vantagem
De quem nada tem, não se espera um vintém
Do que não se teme é que brota a coragem.
A morena é minha por decreto
Meu amor é mesmo ditatorial
Sanciono as leis do bem-viver quieto
Folheando a toa as páginas do jornal.

O Carnaval já acabou, meu amor,
O planeta girou como a porta-bandeira
Mestre-sala em soluços
Mendigos angustiados
Todos doentes do dia-a-dia.
Mas Deus escreve certo por linhas tortas
Um dia a mais e a gente morria.
E a gente morreu, e a gente cedeu,
Agora é lutar por mais um longo dia
Que um dia a gente se encontre de novo:
Alegres mascarados no baile à fantasia.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

As coisas precisam de forma para voar



" Ninguém pode suportar a redutora realidade de uma existência dirigida! Tanta ideologia fundindo a cuca de nossa gente . É hora de acreditar no poder das nossas palavras, do nosso corpo, da nossa vontade, da nossa amizade...Digo isso agora, depois de tirar o último Paulo Coelho da cartola, jurei a mim mesmo que era o fim da caretice; O que fizeram do nosso corpo? Escravo do medo violento de se mover para onde não deve, a ele devemos a liberdade que ainda conheceremos e que talvez já tenhamos tocado algum dia. O que fizeram das nossas palavras? rocas, trágicas, ensimesmadas. Já não as ouço desde antes de ontem.Caminhava sozinho por um caminho cheio de verde, das mais diversas tonalidades, quando me veio à mente uma frase: "As coisas precisam de forma para voar"E o sol poente lançou-me a mais terrível pergunta. "Tu queres ser minhoca ou borboleta?" Depois de um pouco pensar, resolvi assumir os perigos da Linguagem e viver apenas o que me cabe. Tornei-me então a terrível lepidóptera colorida e voei por sobre os seres dos mais diversos sonhos e prazeres...
A noite amanheceu meu corpo. "

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009


" Escrever como quem respira; como quem busca na Literatura aquilo que nunca houvera encontrado em lugar algum. Algo que nem mesmo a Literatura pode alcançar, mas para o qual ela sempre está a caminho. Um mistério indecifrável, segredos, o absurdo da existência, as nossas vontades escondidas atrás das grades de grandes ideologias falidas. Escrever como quem se mostra responsável por seus próprios pensamentos. Escrever no intento desesperado de mostrar a todos, com poucas palavras, um abismo assustador chamado espanto, origem imperante de todo instante poético. "